terça-feira, 19 de novembro de 2013

O MISTÉRIO do CAVALEIRO das POLAINAS com FOLHOS



Depois de na última cruzada contra os infiéis, por terras de Fátima, o exército dos cristãos, liderado pelo Conde D. Francisco Antunes dos Trilhos, o Trilhador-Mor e donatário dos novos trilhos, conquistados à bastonada à moirama, ter tido a estranha visão e aparição, justamente antes da última refrega, de todos os sarracenos infiéis usarem apenas polainas com folhos – há quem diga, os cépticos, que foi o mero efeito psicadélico  e alucinogénico do excesso de consumo de pastéis de nata (há quem afiance que um deles terá injectado 7 doses num só dia!) - e de essa visão, qual milagre de Ourique, ter contribuído para a vitória final na reconquista da almejada – é favor não trocar o e por i, pois só os árabes fazem a almijada- da cidade santa de Fátima, onde os cavaleiros cristãos entraram triunfantes, embora ensopados até aos ossos e outros apêndices corporais que o pudor impede de mencionar, os anais históricos da reconquista, feitos pelo cronista da expedição, o amanuense Fernão Lopes Esteves, e a tradição oral têm vindo a exaltar o feito histórico que valeu a esse grupo valoroso de cruzados o cognome dos reconquistadores, embora alguns gostassem mais de ser os reconquistaprazeres.

      É certo que o fizeram em condições adversas, tendo alguns que partilhar o mesmo leito e uma mantazinha às florzinhas, parecendo dois hippies sussurrando Make Love, Not War, mas quais destemidos beligerantes, sempre sem esmorecer e enfrentando de peito aberto os cães infiéis dos sarracenos das Polainas com Folhos. O problema maior foi que mal tinha acabado o festival de Woodstock, das florinhas, começou um festival de hard-rock , ou hard ronco, tendo estado em palco duas bandas, uma boys band, conhecidos pelos Rockeiros ou Ronqueiros, liderada pelo célebre tocador de trombone Heavy Metal Stevens, e uma Girls band,  que roncou à desgarrada nos decibéis com as rapazes. Houve quem passasse a noite a dançar o twist na cama e, alguns, em desespero de causa, tentaram meter as almofadas nos ouvidos e ensaiaram mesmo pôr a cama em cima da cabeça, mas o som do bicho da madeira ainda era pior, pelo que entregaram a alma ao inferno sem mais resistência!

     É claro também que a vitória final foi obtida sob a protecção da nossa senhora Conceição, padroeira, patrona e patroa de todos os passos, mesmo os dados em falso. Abençoada seja ela que nos fez seguir todos as suas pisadas e ai de quem pisasse o risco, pois o Conde Francisco, senhor de todos os trilhos novos e velhos, largava logo o seu brado de guerra e era ver todos os cordeirinhos a regressar ao redil da pastorinha Conceição. No entanto, a pastorinha, por vezes desvairava, e era vê-la a correr e a desatar aos pulos, como se tivesse mastigado umas baguitas/barritas especiais e drunfadas!
     Tendo o Conde D.Francisco Antunes, egrégio e destemido trilhador, dado ordem de retirada, pensou-se que a moirama destroçada e desanimada, não voltaria a exibir por terras cristãs tal peça de lingerie e retiraria, como cães, com o rabo -ou mais adequadamente, com as polainas- entre as pernas para sempre destas terras regadas pelo sangue vertido das bolhas dos pés dos indómitos cruzados. 

    Mas tal não aconteceu: transcorrida uma semana, numa das caçadas semanais organizadas pelo ilustre Morgado dos Trilhos, um dos sarracenos teve o despudor de anunciar-se mesmo antes do início da caçada, gritando a plenos pulmões na página, que desafiava qualquer um dos cavaleiros para um torneio de bastões. Logo o Conde mandou convocar todos os seus cavaleiros, mesmo os que têm os bastões bastardos e estragados!
   Pelo alvorecer, quando as trompas e as cornetas soaram, como sinal do início da caçada aos trilhos, verificou-se que o cavaleiro sarraceno aparecera disfarçado e ninguém sabia quem era. Alguns pensaram sugerir fazer-se uma parada e uma revista íntima, para identificar tal personagem, procurando a peça de lingerie escondida sob a armadura de Gore-Tex. Outros, olharam-se com desconfiança e com suspeita, procurando sinais exteriores de abundância nas barrigas das pernas. Outros, ciganos puros, acharam que olhando a dentuça se poderia descobrir o renegado! No fim, prevaleceu a decisão do Conde que, com a sua mão enluvada por uma luva feita da pelica mais fina e invisível, deu sinal de partida.
    Como sempre, O Conde, ladeado pelas duas aias de pé ligeiro, que deixam todos cá atrás a gemer e a arfar, as fidalgas que voam que nem galgas, Luísa Santos, Senhora dos Bastões/Barões Arrebentados, e Luísa Lopes, Senhora dos Órfãos dos Bastões/Barões, arrancou à desfilada por desfiladeiros e montes, levando atrás de si os seus cavaleiros apeados. Mais do que a caça ao urso e ao javali, desta feita esta foi uma montaria de caça fina ao Cavaleiro das Polainas dos Folhos.
   Inicialmente, o Conde levou a quadrilha até aos lapiás, para vermos as polainas de calcário e percebermos que a marosca havia de ser descoberta.
 Mais tarde, ensaiou uma quadrilha de dança com a condessa Dona Helena, uma espécie de tango com folhos, para ver se apanhava desprevenido o maroto do sarraceno. Dançou o famoso tango El caminito na sua versão portuguesa chamada “El trilhito”.
 Depois decidiu fazer uma cena de serra ao sarraceno, pela de Olelas, à procura do castro onde habitam os castrados, que não podem usar a polaina pequena, como proclamou a luciferina Lucília, cujo alter ego, Lucinda aparece por vezes às almas penadas deste mundo!

 Foi aí que o cavaleiro Crucho gritou ter visto os folhos no meio do matagal! Possuído por tal visão, investiu com a lança e o pau contra o mato e paulada à direita paulada à esquerda, era vê-lo sem compaixão a destruir o mato. Do meio do matagal vi sair um urso e uma ursa apanhados em flagrante delito…de hibernação (que é que pensavam!) e ainda a vestirem as peles à pressa; quatro raposas, uma com uma galinha na boca; uma miríade de coelhos e coelhinhas playboy aos guinchos e com risos escarninhos a gozar e a dizerem nhã, nhã, nhã, nhã! Traziam ligas e orelinhas côr-de-rosa, mas polainas e folhos nem vê-los.
Lá se acalmou o Cavaleiro Crucho, mas foi sol de pouca dura. Um pouco mais à frente foi novamente acometido por uma visão e foi vê-lo à espadeirada e à paulada ao matagal. Desta feita, só saiu um javali que foi dali até à ilha de Java aos ais, onde hoje os javalis são  conhecidos por javalais!

   Mais tarde, quatro dos valentes cavaleiros, quando viram uma lagoa encantada, acharam que ele, qual Loch Ness, se escondia lá, e mergulharam com escafandros na lagoa. Teve que se mandar a brigada de sapadores para os salvar, pois esqueceram-se de retirar as malhas de ferro e já não conseguiam vir à tona!
Outro cavaleiro, espeleólogo ilustre e destemido, mergulhou numa das grutas e quase ia atravessando a Terra, correndo sério riscos de aparecer nos antípodas, na Nova Zelândia! A custo, lá se conseguiu tirá-lo das entranhas da terra, carregado de vestígios do Calcolítico mas nada de folhos nem de polainas.
 Foi já em desespero de causa que o ilustre Conde, fidalgo da melhor cepa de Touriga e Trilhiga Nacional, decidiu chamar todos os carrascos do reino! Todos eles compareceram e tivemos que passar por entre eles! A tortura nunca mais acabava: ele era picos, ele era arranhões, ele era rasgões mas o raio dos folhos não haviam de chegar intactos ao fim e haviam de denunciar o celerado!
     
 O que é certo é que apesar da tortura, ninguém se denunciou! Ele foi um concerto de gemidos, de gritos, de palavrões, mas ninguém se revelou.
Obstinado, e depois do suplício impiedoso, o Conde resolveu usar o seu último trunfo e jogar a cartada final: levar-nos a subir a rua da Piedade, quando todos já queriam desistir, e ir até à Igreja da Piedade! Claro que a intenção oculta era ver qual de nós é que não se benzia em frente da igreja e assim descobrir o infiel. A desgraça é que por cansaço ou outra razão misteriosa, ninguém se benzeu e o segredo manteve-se.
O conde ainda pensou usar a última estratégia, a do azeite a ferver, mas que só tem êxito com extra-virgem, muito difícil de encontrar nos tempos que correm e muito caro para os trocos que a troica permite, pelo que teve que regressar são e salvo, mas derrotado, ao seu reduto.
       
  Quando todos já estavam convencidos que o ordálio tinha terminado, eis senão quando a Condessa Dona Helena decidiu pôr toda a gente a fazer uns alongamentos. Ingenuamente, quase todos caíram na esparrela, sem perceberem que aquilo não era mais do que uma forma de mostrar as formas e obrigar a mostrar os jarretes e os joanetes para ver quem tinha polainas com folhos.
 O Conde, matreiro, e ao contrário do que é habitual, ficou sentado num ponto alto para catrapiscar os famosos folhos, mas ficou a ver passar navios sem folhos, lá para as bandas do Alvor, onde a alvorada vai ser com muitos folhos e velinhas da romagem a Fátima, tudo isto ao som da música do tango La Cumparsita! Na minha função de vidente-mor do reino, já estou a ver aonde é que a dança vai acabar!
Claro, ao som do estribilho do famoso tango “El Trilhito”, que começa assim:

Ai Trilhos, trilhos aos folhos
Por causa de ti choram os meus olhos
Choram os olhos e as nossas pernas
Que padecem dores eternas

De verão ou de inverno
É sempre o mesmo inferno
Sempre o mesmo sobe e desce
E o corpo é que padece

E em ziguezague o Francisco avança
Como se estivesse na dança e na contradança
E põe-nos a todos cá atrás aos esses
Por culpa dos tontos Gpses

Ai trilhos, trilhos aos folhos
Por causa de ti choram os meus olhos
Choram os olhos e os nossos pés
Pois nunca paramos nos cafés

Ele é sempre a saltar e a correr
E nem um pastelinho de nata se pode comer
Castigo que temos que penar
Até ao corpo de cansaço arrebentar

Ai trilhos, ai trilhos aos folhos
Por causa de ti choram os meus olhos
Choram os olhos e os nossos joelhos
Tanto os dos novos como os dos velhos

E não vale a pena refilar
Porque se queres descansar
É melhor ficar em casa na cama
E não vires sujar-te na lama

Ai trilhos, trilhos aos folhos
Por causa de ti choram os meus olhos
Choram os olhos e as perneiras
De quem escreve e lê estas baboseiras

E assim o mistério se desvenda
Do cavaleiro das polainas com folhos
É o que por ser zarolho trazia venda
E nos folhos muitos piolhos

Viste-o? Não o viste?
É o que ia de bastão em riste
Quando tu te riste
Da dor que nele existe

E por fim está tudo pronto
Para o verso mais tonto
 O do mortal buraco e vénia
Que no intestino faz a ténia!


Não perca o próximo folhetim intitulado “Como a selva nunca mais foi a mesma quando o Tarzan  com uma tanga e polainas com folhos voou dos braços da Jane para os da Cheeta” Excitante não é?


(Autor:  Amanuense-mor do reino,  Jose Esteves)


 

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