quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pela Haute Route até Zermatt


Enquanto alguns se divertiam pela costa vicentina, decidi eu e a Helena, minha companheira de mais de duas décadas desafiar os caminhos da Aute Route Chamonix - Zermatt.

Inicialmente optámos fazer a Haute Route pelos caminhos mais fáceis a média montanha, mas fruto de um inverno anormalmente longo na Europa, muito próximo da data marcada a actividade foi anulada por dificuldades técnicas.

A primeira reacção foi ficarmos muito tristes pois estávamos ansiosos por fazer esta travessia e víamos assim os sonhos desfeitos... mas depois do primeiro embate logo começámos a procurar alternativas até porque alguns dos custos eram já efectivos e nesta procura encontrámos varias empresas a oferecer a Travessia Glaciar de la Haute Route e não hesitamos, apesar de ser uma experiência nova para nós. Escolhemos e em boa hora a empresa Chamonix Aventure.

Evidentemente que tivemos de nos munir do equipamento técnico necessário, entre os quais, varias camadas de roupa, botas de alta montanha, calças de alta montanha, crampons, piolets, arnês, etc.. uns comprados outros emprestados por amigos e tudo se resolveu. 

Assim no final de Junho lá fomos apanhar o voo low cost da easy jet direto para Geneve onde nos esperava o shuttle para a bela cidade alpina de Chamonix. Depois de acomodados no hotel passeamos um pouco pela cidade, jantámos fizemos algumas compras e descansámos para estarmos em forma para o dia seguinte.


Vista de Chamonix



Chamonix



Chamonix



Chamonix - Igreja


Bem cedinho o guia foi nos buscar ao hotel e levou-nos até Argentiere onde nos juntámos ao resto do grupo, 5 franceses, um deles com origens portuguesas, isto porque como dizem os galegos, "Portugueses y Galegos los hay hasta la luna", e a prova foi que estivemos sempre a encontrar sangue luso durante esta aventura. Dali partimos para a aldeia de "Le Tour" onde iniciámos o nosso périplo e através do teleférico de Balme subimos até aos 1.800 metros.

Teleférico de Balme




Dali, através de belos trilhos com soberbas vistas sobre o vale de Chamonix, subimos até ao refúgio Albert I num trilho paralelo ao glaciar du tour que apreciamos de perto.





A chegar ao Glaciar du Tour




Glaciar du Tour

Depois de uma paragem para comer no terraço do refugio a 2.800 metros, houve necessidade de colocar os crampons, o arnès e os piolets e encordoados continuamos a nossa subida rumo ao glaciar de Trient a 3.100 metros. Confesso que neste dia talvez por ser o primeiro e o desnível ser muito acentuado senti um pouco de mal de montanha (algumas dores de cabeça essencialmente) o qual depois de tomada uma aspirina desapareceu rapidamente.


Antigo Refugio Albert I




Vista do Glaciar du Tour e Vale de Chamonix



Durante a subida tivemos o "privilégio" de ouvir uma avalanche a cair ao nosso lado..., nevoeiros intensos logo seguidos de esplêndidos raios de sol, um frio muito intenso e muita alegria a mistura...










Chegámos ao planalto de Trient onde apreciámos a formação rochosa denominada agulhas douradas e finalmente o refúgio, a Cabane de Trient, um excelente refugio suiço na região do Valais que apesar de ficar a 3.170 metros de altitude tem todo o conforto típico de um bom refugio com excepção de duche....










Agulhas Douradas

Depois de um belo e saciante jantar o cansaço impunha deitar cedo e dormir no quentinho do refugio com a temperatura exterior a baixar aos menos 20.

Agulhas Douradas ao por do sol


No dia seguinte acordámos pelas 5 da manhã e assistimos ao nascer do sol com as agulhas douradas em todo o seu esplendor matinal e iniciámos a descida pelo glaciar de Orny até ao teleférico de la Breya onde supostamente desceríamos não fossem estar avariados pelo longo inverno deste ano.






Les Grands Combins




Assim iniciámos a enorme descida até Champex, um desnível acumulado de mais de 2.000 metros o que nos provocou algum cansaço e no final da descida, onde já todo o perigo tinha passado num pequeno trilho de floresta a cerca de 2 km da povoação de Champex a minha mulher fez um entorse ao colocar mal o pé sobre uma pequena pedra e claro todo o plano ficou suspenso.







Chegados ao hotel era a hora do merecido descanso pelo que ela foi descansar e tomar toda a medicamentação anti-inflamatória adequada a estes casos, deixar o pé em descanso.

No dia seguinte era hora de partir e através de um transfer previsto no programa reiniciar a caminhada noutro ponto mais perto de Zermatt. Mas depois de verificado o estado do entorse e inchaço do tornozelo, constatámos que não estava em condições de continuar a actividade e por sugestão do Guia Patrick Anulliero que se revelou de um profissionalismo e carácter bastante elevados, ficaríamos 2 dias a descansar e retomaríamos a actividade ao 3º dia, caso a situação evoluísse favoravelmente pelo que ainda teríamos oportunidade de acompanhar a parte mais interessante de toda a travessia.

Assim sem outra alternativa ficamos todo o dia em Champex e apesar do entorse a Helena mulher de coragem e fibra de beirã, ainda conseguiu fazer uma pequena caminhada de 6 km onde visitámos o lago de Champex e acabou por se tornar um dia bem agradável para descansar o espírito e o corpo.










No dia seguinte partimos cedo para a uma bela aldeia do Valais, Arolla, uma aldeia alpina tipica, situada a 2.000 metros de altitude num cenário digno da Heidi. Aqui ficamos alojados num pequeno e pitoresco hotel propriedade mais uma vez de um português...






Para nos preparamos para a subida da montanha no dia seguinte passamos a tarde a subir e descer os trilhos que rodeavam a aldeia para ver como se comportava o tornozelo da Helena, o que nos deu alguma segurança para o dia seguinte uma vez que ela conseguia andar sem dores, subir e descer sem grandes dificuldades.






No dia seguinte e dada a situação e incerteza estavamos um pouco nervosos. Tive o cuidado de levar o gps carregado pois em caso de ela não conseguir subir teríamos que voltar para trás mas as expectativas revelaram-se as melhores e la partimos eu, a Helena e o Guia Patrick rumo ao tão ansiado refúgio Cabana de Bertol e assim iniciamos a subida pelo vale do glaciar de arolla.









Glaciar de Arolla


Para nosso espanto a Helena conseguiu acompanhar-nos sem grandes dificuldades, claro que tivemos que ir um pouco mais devagar mas fomos subindo por uma paisagem soberba e inigualável de cortar a respiração, tal a beleza que nos circundava...



 




A meio da subida parámos e esperámos pelo restante grupo que vinha da Cabana des Vignettes e reencontrámos-nos todos o que foi uma grande alegria pois estávamos novamente todos juntos e assim iniciamos a subida para a Cabane de Bertol que fica no cimo de um penhasco a 3.300 metros e por isso pura e simplesmente não tem água, alem de que o acesso faz-se por uma escada de ferro na vertical mas para compensar tem uma vista verdadeiramente fantástica sobre grande parte dos picos dos Alpes.









A subir pelo trilho da avalanche

Eis-nos chegados à famosa escada para o refugio...


Escada de acesso ao refugio


Este refugio alem de estar a uma grande altitude, tem a particularidade de estar no cimo de um  rochedo em que apenas pode ser abastecido de helicóptero e não possui água. Mas em contra partida oferece uma das mais espectaculares vistas dos Alpes.


Panorâmica obtida no terraço do refugio





 




Como as travessias dos glaciares se fazem essencialmente de manhã para evitar os perigos das avalanches e das fendas no gelo as tardes são passadas nos refúgios a jogar as cartas, a ler revistas de montanha e a conversar mas sempre num fantástico ambiente de montanha, e assim se passou mais uma tarde e no final saímos ao terraço para assistirmos a um verdadeiro espectáculo alpino, o pôr do sol no refugio de Bertol.





Durante o jantar os guias avisaram que iria haver uma tempestade no dia seguinte e por isso havia um alerta para que todos os grupos deixassem a montanha até ao final na manhã.

Assim, no dia seguinte levantámos-nos às 4 da madrugada e depois de tomar o pequeno almoço, saímos do refugio ainda de noite o que dificultou a descida pelas escadas com a agravante de ter que colocar os crampons e o arnês no pouco espaço que tínhamos entre o final das escadas e a pendente de neve mas la se conseguiu fazer tudo o que era necessário e partimos rumo à Tete Blanche (3.700 metros) de onde pela primeira vez avistámos o Matterhorn (Cervino) ou monte do Toblerone como também é conhecido, encordoados em fila com frontais, crampons e piolets assistimos ao nascer do sol, um frio muito intenso, talvez 20 negativos ou coisa parecida mas uma sensação única de estar fora do mundo...




O nascer do sol na Tete Blanche.

O nascer do sol na Tete Blanche










O pico do Matterhorn ao fundo

Depois da Tete Blanche iniciou-se a descida com alguma velocidade dado o alerta de tempestade, todos os grupos que estavam no refugio a descer o glaciar de zmutt ao mesmo tempo, uma verdadeira cena épica que não se consegue descrever, várias sensações extraordinarias que nos ficarão para sempre na memória, o perigo ao descermos pendentes de 90º nos glaciares mas ao mesmo tempo a adrenalina, o ambiente, tudo verdadeiramente soberbo.



Detalhe do Glaciar de Zmutt










E assim chegámos à Cabane Schönbiel ou Schönbielhütte pois estamos já na suiça alemã a cerca de 2.700m a qual fica em frente ao famoso Matterhorn ou Monte Cervino e por isso com uma vista privilegiada sobre o mesmo.






Quando estávamos a chegar começou a cair um grande nevão que se prolongou pela tarde toda o que não causou transtorno uma vez que já estávamos a salvo.


Após o Nevão


No dia seguinte com um sol explendido e depois de termos tirado as fotos que se impunham iniciámos a descida para Zermatt.





O Matterhorn


Zermatt,uma aldeia famosa pelo montanhismo e pelo sky e também pela proximidade do Matterhorn. Descemos por trilhos de média montanha a fazer lembrar os famosos desenhos animados da Heidi e finalmente chegamos ao nosso objectivo, Zermatt e qual não é o espanto pois ao nos sentamos numa esplanada para bebermos uma cerveja de comemoração, a empregada perguntou-nos em bom português o que queríamos e assim encontrámos mais sangue luso em terras suiças.













Nesse mesmo dia voltámos a Chamonix no transporte da empresa que nos levou e ficou assim concluída a nossa travessia da Haute Route que apesar de alguns transtornos acabou em bem e apesar do compasso de espera de 2 dias de recuperação da Helena nos acabou por dar muita satisfação!


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