quarta-feira, 3 de abril de 2013

Conclusões tardias mas a tempo de emenda




















Deu-se o caso da sexagésima vez que calçavam as botas para calcorrear montes e vales por trilhos novos ensarilhados em velhos já conhecidos, coincidir com o celebrar da morte e ressurreição daquele que deu a volta às escrituras e fez nascer, para as gerações que estavam na calha, um novo testamento.
Não foi agarrados a testamentos, velhos ou novos, que passaram mais umas horas de amena cavaqueira. Por vezes debaixo de chuveiradas para refrescar o ambiente. Entre nevoeiro cerrado onde se não viam corpos, moviam-se sombras que se guiavam pelo tato e pelo som da algazarra que faziam. Subiram aos picos mais altos, desceram aos fundos deslizando na vertigem das ladeiras. Nas planícies espojaram-se na lama que carregaram em contra peso como quem carrega recados para quem não aproveita.
Não são regidos por qualquer testamento. Do que gostam fazem-no sem imposição e de livre escolha.
Não é pelo testamento, escrito para enfeitar as turbulências da vida, que vão cirandando entre pousios ou cumeadas, antes pelo contrario.
Ouvissem, os moralistas da fé ligados à corrente do livro sagrado, os ditos e pensamentos amorais e imorais que grassam pelos caminhos percorridos nos finais de semana, e não eram aqueles que, fingindo amar a terra apregoam a sua protecção com falatório panfletário argumentando que caminhar em grupo é peso excessivo para o solo e tentam destruir a sã convivência com o ambiente criando leis sem nexo e desprovidas de sentido, levariam à condenação por heresia os amantes das pegadas sem grilhões. Esses arautos, que para se pentearem precisam de perguntar ao livro sagrado como se faz e se o podem fazer, só descansariam quando a fogueira crepitasse de gozo ao sentir as labaredas lambendo os corpos hereges desses apóstolos do diabo que fomentam o caos na terra abrindo o caminho ao apocalipse que destruirá a humanidade.
Novo ou antigo, a diferença está nos protagonistas mas, todos eles, antes ou depois, têm uma coisa em comum: sempre se deslocaram a pé, sempre fizeram caminhadas e, quando a locomoção embicou para outros meios, o redil aburguesou-se e dai aos tabefes, à vida sedentária e aos Ferraris para o engate, foi um pestanejar a alta velocidade. Por tudo isto se concluiu, ao fim de alguns milhões de anos, que caminhar não causa destruição.
Caminhar é estender e cobrir os montes com alegria. É dar e receber amizade. É fomentar o prazer pelo ar que respiramos e a liberdade de sentir o tempo que nos vai cobrando por nos sentir-mos mas não nos tira esta vontade de viver.
Foi mais uma caminhada de encher o pipo. O convívio final pelas sessenta andanças e pelos ovos pascais, foi um festim sem foguetes, mas com fogo de artificio que só o espirito que paira entre os afortunados que em bom tempo se juntaram para carregarem baterias aos fins de semana, consegue ribombar.
Há fogo de artificio que se alastra! Andarão por ai os princípios dum terceiro testamento? Será que vem ai a Bíblia II???


Joaocasaldafonte


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